Andarilho + Prima Vennero

No dia 15/12, tive a oportunidade de participar de dois larps na cidade de São Paulo.

FONTE: Luiz Prado

O primeiro deles, Andarilho (partitura disponível aqui), é um larp de autoria de Luiz Prado. Para além da influência tarkovskyana, minha mais relevante reflexão sobre esse larp é a ocupação e ressignificação do espaço urbano. Um herdeiro do flâneur benjaminiano e da dérive situacionista, a leitura da partitura, em 2017, já havia me despertado a relação teórica com um artigo do Paulo Celso da Silva que tenho muita admiração que discute a observação como método.

Vagar, derivar e/ou perambular pelo espaço urbano, desnaturalizando tudo aquilo que lidamos cotidianamente de maneira tão inconsciente, tal como o trânsito, o comportamento das pessoas, as construções, entre tantas outras coisas, implica reflexão, no lugar da onipresente repetição. E, como postula o artigo do Paulo Celso, "o observador não quer repetição. Quer reflexão".

Para além de descrever quais foram as reflexões gestadas pelo grupo que fiz parte (um total de 7 pessoas participaram do larp, divididos em três grupos), sob o receio de enviesar o olhar de leitores que futuramente venham a executar o Andarilho, o que me salta a vista é a versatilidade e re-jogabilidade do mesmo. Os grupos tiveram reflexões distintas, e eu mesmo passei por situações distintas da outra oportunidade que tive de me tornar, provisoriamente, um andarilho...

FONTE: The Holocaust Chronicle

O segundo foi o Prima Vennero/First they came, dos italianos Andrea e Alessandro Giovannucci, um dos larps integrantes da coletânea Crescendo Giocoso. Inspirado a partir do poema de Martin Niemöller, propõe a história de três opositores do regime nazista que se escondem num sótão durante uma batida da SS no prédio em que vivem na Berlim de 1942.

O larp aconteceu com 4 pessoas (3 jogadores + 1 organizador), e imediatamente, sua temática remeteu à razão instrumental de Horkheimer, conceito ampliado por Arendt como banalidade do mal. No larp, para além da vilania e das atrocidades nazistas, a provocação é estar na pele de personagens cujo guia inclui os tópicos "Você era parte do problema" e "Você pode fazer parte da solução". No segundo, são dadas informações, em linhas gerais, de algo que você planeja realizar num futuro próximo e que podem trazer o bem para o entorno social. No primeiro tópico, por sua vez, é descrito algo que você já fez no passado e que prejudicou alguém. Com esses personagens que de maneira alguma se reduzem ao maniqueísmo, a proposta do larp é relação entre os três permanecerem escondidos ou delatarem um dos outros. Um acontecimento de mais de 70 anos atrás que, infelizmente, ainda projeta suas sombras...

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