Mwarusi

No dia 24/09, tive a oportunidade de participar do evento de Setembro do Apenas um Jogo, promovido pelo Luiz Falcão no Espaço de Tecnologias e Artes do SESC Itaquera: Jogos para o Projeto Mwarusi.

A primeira coisa que gostaria de evidenciar é sobre como o mundo dá voltas. Quando ainda cursava a graduação em Administração, tive a ideia de realizar uma Monografia sobre a Relevância sócio-econômica do Terceiro Setor no Brasil. O professor responsável me fez trocar de tema, alegando que este não era relevante (eu tive uma reação muito parecida com a que você provavelmente deve estar tendo agora). De lá para cá, sempre fiquei muito receoso quando o assunto envolvia ONGs (Organizações Não-Governamentais, que por vezes configuram um tipo de instituição conhecida por OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Mas o motivo não era a "não-relevância" defendida por meu ex-professor: durante o levantamento bibliográfico de minha pesquisa embrionária, descobri que o 3º Setor movimentava cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, em idos de 2008. Era muito dinheiro, e talvez muita corrupção! Desde então, desenvolvi um preconceito sobre o tema. Em tempo: isso não significa que eu não acredite no trabalho de várias ONGs, mas sim que eu sempre chego no assunto "com um pé atrás".

Independentemente do que acontece nas esferas administrativas, políticas e institucionais, e longe de afirmar que o modelo de atuação internacional de uma ONG com apoio europeu e norte-americano esteja livre de críticas, o trabalho de campo desenvolvido realizado no projeto Mwarusi me chamou a atenção. João Pedro Torres, convidado dessa ocasião para o Apenas um Jogo, foi selecionado para atuar como game designer no Projeto Mwarusi, desenvolvido pela ONG Girl Move, em Moçambique. Sua participação no SESC alternou entre relatos de como foi a experiência e alguns jogos desenvolvidos no projeto. Para situar o leitor, o Projeto Mwarusi (palavra com significado próximo à debutante) visa diminuir a evasão escolar de garotas  adolescentes (raparigas, no português local) moçambiquenses. Entre os principais motivos para a evasão, segundo Torres, estão a gravidez precoce (cerca de 50% das mwarusi), as dificuldades financeiras de se manter uma criança na escola e as questões de gênero (no contexto social de Moçambique, os homens possuem empregabilidade maior que as mulheres, o que diminui o interesse na educação feminina).

A ideia do projeto é utilizar jogos para atrair as participantes, assim como o roleplay como uma ferramenta social, permitindo tomada de outras perspectivas e empoderamento. Torres nos brindou com 3 jogos: Corre Menina! e No Próximo Episódio (que não tivemos tempo de experimentar), jogos mais voltados à atividade física, assim como o raciocínio rápido para criar respostas à dilemas; e Um Namorado para Mwarusi, mais central na discussão aqui proposta, pois trata-se de um larp.

Dois dos pontos interessantes do larp foram os participantes (10, oscilando entre crianças e idosos, com vários deles tendo a primeira experiência com larp ali) e os papéis (os pretendentes da debutante foram escolhidos a partir de um levantamento feito pela Girl Move sobre o perfil dos parceiros das Mwarusi). Ainda sobre os papéis, parte da discussão pós-jogo orbitou em como esses estereótipos de pretendentes seriam configurados no Brasil. A saber: em Moçambique, os parceiros sexuais mais incidentes são estudante, professor, policial, cabeleireiro, futebolista, dono de supermercado e motorista.

FONTE: Imagem de João Pedro Torres, utilizada no Evento do Facebook.
* Agradecimento especial ao Luiz Falcão pela revisão.

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