Ilha das Bruxas

Em clima de Halloween, o Apenas um Jogo (programação de larp realizada pelo Luiz Falcão no ETA do SESC Itaquera) de outubro, realizado no dia 29/10, trouxe Ilha das Bruxas, um larp desenvolvido pelo próprio Luiz Falcão em parceria com o André Sarturi, referenciado tanto em As Bruxas de Salem, peça teatral de Arthur Miller, quanto em Terra dos Pecados, larp desenvolvido por Sarturi e objeto de pesquisa em seu mestrado.

FONTE: Imagem retirada do filme Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos (1922).


Tanto Ilha das Bruxas quanto suas referências fazem alusão clara aos episódios de julgamentos de feitiçaria na cidade de Salém (Estados Unidos). Isso aconteceu em outubro de 1692. Mas não parece.

O clima que permeou o larp e, sobretudo, as discussões posteriores, foi sobre a atualidade do tema. Que "bruxas" nossa sociedade caça hoje, como operam os "epidemias de julgamentos" (que me fizeram lembrar dos contágios psíquicos) e questões de gênero permearam as discussões dos nove participantes (onze, se contarmos também os dois organizadores). Um relato de um dos participantes sobre parte das discussões pode ser encontrado no blog do Luiz Falcão.

Outro ponto interessante de ser registrado é sobre o próprio larp design. As influências do teatro estavam ali, seja no palco que adquiriu caráter central no larp (ora como palanque, ora como altar), seja numa certa direção e dramaturgia presentes (um conjunto de cenas pré-determinadas, organização ocasionalmente sussurrando sugestões de ação, protagonismos em algumas cenas, entre outros). Tanto que, sem saber se os autores concordariam com essa afirmação, diria que existem aproximações com os Jeepform. Grande destaque para os elementos de figurino entregues aos participantes: um caderno de anotações sobre as personagens, que tinha cara de livro de orações; e um pedaço de pano, que alternou-se entre venda, véu, estola, corda de forca, algema (fora o que os participantes pensaram em fazer enquanto ela não tinha nenhuma função específica). Solução extremamente elegante encontrada por Sarturi e Falcão para criar vários elementos em momentos distintos sem precisar de uma cenografia/figurino pesado.

Em tempo: o caderno de anotações tem me feito pensar o quanto essas materialidades diegéticas podem ser priorizadas nos larps. No sentido de relato da experiência, e até mesmo como parte do debrief, objetos como o caderno podem se mostrar como soluções bastante eficientes. Mas isso é outro assunto, para outro momento.

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