So, You Think You Can Dance?

Exatamente há 70 anos (29 de novembro de 1947), a ONU aprovava a Resolução 181. De lá para cá, o conflito entre Palestina e Israel têm sido notícia constante. Mas, apesar de noticiado, é necessário observar a ignorância geral da população de outros países (como é o caso do Brasil) sobre a questão. Então, Você Acha que Consegue Dançar? (So, You Think You Can Dance?, no original - proposta do larp disponível aqui) lida justamente com esse desconhecimento sobre o tema.

Anos atrás, quando ainda estava começando a conhecer o larp por intermédio do Luiz Falcão e do Luiz Prado, tive a oportunidade de gravar um podcast com eles. Na ocasião, falaram (entre vários outros assuntos) sobre o larp Halat hisar. Se eu precisar apontar um único larp que me fez decidir pela trajetória acadêmica envolvendo larp, Halat hisar, uma co-produção Palestina-Finlândia que buscou levar a realidade de ocupação palestina para o cotidiano finlandês, é o escolhido. O motivo era a seriedade do tema, além das reflexões que ele provocou nos participantes.

Saindo de 2014 e voltando para 2017, conheci a Bait Byout (também muito ativa no Facebook), organização palestina de larp. Mohamad Rabah, um dos diretores da organização, foi com quem estabeleci contato. Recebi alguns roteiros de larp, e So, You Think You Can Dance? estava entre eles. No final do primeiro parágrafo da introdução, estava completamente consciente de que era um larp que precisava participar, afinal, trata-se de "um larp educacional para não-palestinos sobre a situação política interna palestina". Fiz uma apressada tradução, e então So, You Think You Can Dance?, de autoria do próprio Mohamad Rabah, além de Riad Mustafa e Ureib Samad, tornou-se Então, Você Acha que Consegue Dançar?.

Depois da oportunidade de organizá-lo durante o Ciclo de Jogos Narrativos, no Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) do SESC Sorocaba, tive a oportunidade de participar do larp no dia 26/11, organizado pelo Luiz Falcão no ETA do SESC Itaquera, como parte da programação Apenas um Jogo (link do evento no Facebook). Nas palavras de Luiz Falcão, esse seria "um larp para entender a Palestina".

FONTE: Yitzhak Rabin, Bill Clinton e Yasser Arafat nos Acordos de Paz de Oslo.

Isso porque aprendemos sobre alguns eventos marcantes da história palestina ao longo dos últimos 70 anos (especificamente a Guerra dos Seis Dias, Conflito Israelo-Palestino, os Acordos de paz de Oslo e a Segunda Intifada). No campo político, o larp envolve um aprendizado relevante sobre a Autoridade Palestina, a Organização para a Libertação da Palestina, o Fatah, o Hamas, a Frente Popular para a Libertação da Palestina e o Partido Comunista palestino. E, contando com cinco participantes, vivenciamos uma leitura da invasão de Ramala ocorrida em 2002. Mais do que isso, o larp convida à reflexão entre a invasão de 2002 e as eleições do parlamento palestino de 2006, ocasião na qual o Hamas assume 56% das cadeiras.

Terminado o larp, discutimos sobre o design do larp (que dialoga de maneira familiar com as vicissitudes da produção brasileira), sobre as dificuldades de entender o roteiro (com levantamento de hipóteses que variam entre as diferenças linguísticas e uma possível imaturidade da produção palestina em 2013), sobre a relevância do tema. Destaque também para a eficiência da "cadeira-quente", ferramenta utilizada no workshop para familiarizar as personagens para os jogadores.

Em tempo: hoje também marca o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, instituído também pela ONU, exatos 30 anos depois (29 de novembro de 1977) da Resolução 181. Sobre o contexto atual palestino, no dia 12 de outubro de 2017, Fatah e Hamas assinam um acordo de reconciliação. Hoje, enquanto escrevo esse relato, ambos se acusam do descumprimento e discutem o adiamento do mesmo. Nesse contexto, aprender com Então, Você Acha que Consegue Dançar? demonstra-se uma importante possibilidade de entender um pouco mais sobre uma série de conflitos que ainda parecem distantes do fim. E que certamente afetam também nosso cotidiano, dada a questão dos refugiados. Por fim, é importante lembrar do artigo de Daniel Steinbach (disponível no livro Larp Politics), onde o larp é apontado como "um método para criar uma cultura de acolhimento e aceitação". 

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